Após a vitória da coligação Portugal à Frente nas eleições do mês passado, com apenas 36,8% dos votos, o Governo apresentado por Pedro Passos Coelho foi chumbado na Assembleia da Republica, com toda a Esquerda e também o PAN a votar contra o mesmo numa das Moções de Rejeição que foram apresentadas. Digamos que esse era um cenário mais que esperado, pois já antes das eleições era previsível que o PS, não obtendo maioria absoluta, procurasse apoios à Esquerda. O único cenário novo foi o facto do PS ser derrotado e essa convergência de Esquerda manter-se, dado que nenhum dos partidos se revia na atitude e no programa (ou falta dele) da Direita.
Pode-se dizer que o Presidente da Republica, Aníbal Cavaco Silva, foi um dos “comandantes” de uma campanha que pretendeu denegrir a imagem do PS e de toda a Esquerda, fazendo o eleitorado crer que um Governo liderado pelo segundo partido mais votado era inconstitucional e péssimo para o país, algo que felizmente teve consequências negativas apenas em termos internos, dado que externamente as coisas se mantiveram estáveis.
Se analisarmos bem os resultados eleitorais, PS terá sido o partido mais votado, Portugal à Frente apenas venceu por ter dois partidos previamente coligados, que juntos obtiveram apenas mais 4% dos votos. Mas no que toca a termos constitucionais, que são os que realmente interessam, toda esta situação é completamente legal, embora o eleitorado de Direita creia que não.
O Presidente da Republica tem sido tudo menos um Chefe de Estado, em dez anos do seu mandato, poucas são as atitudes e decisões positivas que tomou, o que o torna claramente indigno do seu cargo, algo que foi claramente comprovado por este último mês e meio repleto de algo a que se pode chamar uma “palhaçada”, declarações ideológicas de completo egocentrismo, bem ao estilo de um Salazar em decadência.
Hoje, finalmente foi tomada uma decisão que defende os interesses nacionais, independentemente da orientação política de cada um. Hoje foi indigitado um Primeiro Ministro com condições de governação garantidas que, ainda que não cheguem a quatro anos, serão suficientes para dar alguma estabilidade ao país até um novo acto eleitoral, ainda que antecipado.
Parece que desta vez Cavaco Silva decidiu ter em consideração os “pequenos” partidos e dar-lhes algum crédito e responsabilidade, algo do qual vinham constantemente a ser excluídos. Apesar disso foram feitas 6 exigências a António Costa, exigências essas nunca feitas a Pedro Passos Coelho, algo que é ainda mais grave considerando que, para além de não ser função do Presidente da Republica fazê-lo, a coligação PàP apresentou programas e propostas completamente vazias e que exigiriam muito mais esse tipo de intervenção, já que o Partido Socialista apresentou um programa completo e um Acordo de Esquerda bastante explícito e esclarecedor.
Agora, mais que criticar ou fazer uma oposição cerrada a este Governo, a Direita deverá, assim como pregou aos portugueses durante os últimos quatro anos e meio, manter uma postura serena e deixar o PS governar o país com toda a legitimidade que a maioria parlamentar (representativa do povo) lhe dá.
É uma nova fase e os nossos desejos são de que se consiga alguma estabilidade e prosperidade, nem que seja por um ou dois anos, algo que um Governo de Gestão nunca seria capaz de proporcionar e que arrastaria o país para nove ou dez meses de tensão e incerteza. Vamos Portugal!