Anteriormente, o Festival de Veneza já tinha dado o mesmo sinal, entregando o seu último Leão de Ouro a “Roma”, de Alfonso Cuarón. A própria Academia de Hollywood confirmou que uma produção do gigante do streaming não é menos cinema pelo simples facto de ser vista no pequeno ecrã, até porque facilmente supera a qualidade de muitos filmes exibidos em sala, algo que é também conseguido regularmente por algumas séries televisivas.

Depois das novidades que ocorreram nos BAFTA, não será de admirar que “Roma” venha a vencer alguns dos principais Oscars. Seria uma forma justa de premiar o filme sublime de Alfonso Cuarón, repleto de pequenas invenções e inovações verdadeiramente cinematográficas.

Há dois anos em Cannes, durante e após o festival, houve uma afirmação do mesmo dizendo que recusava mostrar de novo filmes sem que a Netflix garanta a sua distribuição em sala, mas parece que foi apenas o reflexo de uma novidade que os interesses instalados não sabiam ainda muito bem digerir. Hoje, é já possível um festival da dimensão da Berlinale mostrar uma produção da Netflix sem que haja grande discussão em torno dessa opção, o que demonstra a rápida evolução da mentalidade, pelo menos em alguns locais.

A projecção ocorreu em sessão oficial, mas fora de competição. “The Boy Who Harnessed the Wind”, filme em que Chiwetel Ejiofor se estreia na realização, ele que era somente actor e conhecido por todos através do filme “12 Anos Escravo”, prestação que lhe valeu uma nomeação para o Oscar.

O filme adapta o romance autobiográfico com o mesmo nome de William Kamkwamba, cuja acção decorre no Malawi, no início dos anos 2000, numa altura em que a tensão política e a ausência de chuva deixou a maioria da população rural em fome extrema. Mas um jovem de 13 anos, que jamais recusou a ir à escola, descobriu num livro como poderia produzir um equipamento, adaptando a bicicleta do pai, e que lhe permitiria tirar água de um poço e irrigar os campos.

O filme de Ejiofor é bastante pedagógico e tenta passar um sentimento de positividade. Dada a extremista situação social que aborda e a incrível história que conta, talvez essa até seja a forma mais adequada de o fazer, mas não deixa de ser um contraste de emoções pouco habitual. Nota-se ainda que este filme se enquadra, na perfeição, com a estratégia da Netflix em crescer no mercado Africano, onde diversos países têm vindo a crescer e a consumir produtos dos países mais desenvolvidos.


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