A procura da água a nível mundial aumentou quase oito vezes entre 1900 e 2010, devido não só ao crescimento populacional, mas também às novas dietas alimentares e ao desenvolvimento económico massivo.
A China, país onde ocorreu o maior crescimento demográfico e económico no séc. XX, a água é cada vez mais escassa. São aproximadamente 1,4 mil milhões de habitantes, pelo que esse recurso fundamental se tornou limitado e tem sido distribuído de forma desigual.
Apesar da escassez de água, acontece por diversas vezes um fenómeno inverso, onde inundações e cheias ocorrem de forma descontrolada, muito devido à influência das alterações climáticas, particularmente agressivas neste ponto do planeta.
A qualidade da água é também cada vez menor, devido a uma má gestão dos recursos hídricos e uma actividade descontrolada das indústrias, tornando-a inutilizável na grande generalidade dos casos.
O problema tem afectado predominantemente o norte do país, sendo que no sul o problema é mais reduzido ou sazonal, visto que 80% deste recurso natural se localiza nesta área. Mas é a norte que se localizam os grandes polos de actividade industrial e populacional, o que demonstra o desequilíbrio na distribuição e disponibilidade deste recurso.
As alterações climáticas têm vindo a gerar cada vez mais precipitação e tempestades de elevada força, o que afecta as grandes cidades e vilas do sul da China, em particular as que se localizam na margem do rio Yangtze e os seus restantes afluentes, o que já causou tremendas inundações e, num só evento, mais de 300 vítimas mortais, tendo sido realojados mais de um milhão de habitantes.
Serão as “Cidades-esponja” a solução para esta crise?
As “cidades-esponja” são uma forma natural e artificial de reduzir a probabilidade de ocorrência de inundações, através da implementação de vegetação e materiais que retêm a água para proveito próprio, retarda a sua circulação e limpa-a ao longo de todo o processo.
O objetivo deste projecto tem sido reter a água das chuvas em áreas urbanas, alterando a impermeabilização dos pavimentos, deste modo parte da água evapora e a restante é drenada gradualmente.
Além de alterar a impermeabilização das estradas e pavimentos, são plantadas cada vez mais mais árvores e construídos edifícios inteligentes que se adaptam à “esponja”. Isto significa que os telhados têm cada vez mais relva e outras plantas, de modo a absorver parte da água. Os edifícios são também pintados cada vez mais com cores claras, de modo a refletirem mais calor, em vez de o absorverem.
Em suma, as “cidades-esponja” são cidades ecológicas, que incorporam os ciclos da água no seu planeamento urbanístico e de segurança. Este conceito foi concebido por Kongjian Yu, um Arquitecto Paisagista e Urbanista Ecológico, estando as suas ideias a ser implementadas desde 2013.
Quais são as principais “cidades-esponja” da China?
O maior exemplo é o parque de águas pluviais Qunli, na cidade de Harbin, com 34 hectares, na cidade de Harbin, no norte da China. Esta “cidade-esponja” recolhe, limpa e armazena águas pluviais. Protege ainda o habitat natural nativo de diversas espécies e e proporciona um espaço público verde para usufruto da população.
Dezasseis outras cidades-piloto foram já escolhidas pelo governo chinês para a implementar mais estratégias inovadoras de gestão da água. Nesta selecção encontram-se Chongqing, Xiamen e Wuhan, esta última com graves problemas de higiene e recursos, como se ficou a saber após o despoletar da pandemia Covid-19. As cidades contempladas vão receber entre 400 a 600 milhões de yuans (cerca de 55 milhões de euros) para implementar este projeto ambiental.
A vontade de implementar este tipo de “cidade-esponja” está a crescer. Segundo a empresa de arquitetura Turenscape, com a previsão de que a China atingirá o pico das emissões de carbono até 2030, 70% das cidades do país estão a esforçar-se por implementar projetos ecológicos o mais rapidamente possível e prevê-se que esta solução se estenda a outros países em desenvolvimento, que são geralmente mais afectados pelo mesmo tipo de fenómenos naturais.
Esta transformação está a demonstrar que o design ecológico é muito mais do que apenas telhados verdes e jardins, pode conseguir revolucionar de forma muito sustentável a textura das cidades e a qualidade de vida dos seus cidadãos.