Se na primeira metade do século XX o lixo produzido pelos humanos era um problema afecto ao nosso planeta, décadas depois passou a ser também um problema ao nível do espaço, onde temos deixado toneladas de lixo e detritos espaciais. Este problema torna-se cada vez mais uma emergência com necessidade de resolução, mas pouco se tem avançado neste tema.
Estes detritos espaciais são entulho que as missões espaciais levadas a cabo por humanos deixam para trás. Os detritos em causa constituem maioritariamente peças e componentes dos foguetões, que se desacoplam nas fases iniciais das missões, bem como satélites e telescópios diversos que ultrapassaram já o seu limite de vida, deixaram de funcionar ou ficaram sem combustível para corrigir as suas trajectórias. Milhares destes objectos ficam, portanto, numa órbita ‘eterna’, podendo muitos deles vir a reentrar na atmosfera com o decorrer do tempo, caso a sua velocidade seja inferior ao necessário para se manter no espaço. O inverso também poderia acontecer, mas não é expectável que hajam muitos objectos com uma velocidade superior, o que lhes permitiria afastarem-se da terra.
Para além dos objectos e componentes referidos, existe ainda uma enorme quantidade de pequenas peças que são uma preocupação para a segurança da actividade espacial de um modo geral, como é o caso dos sistemas de proteção transportado por todos os satélites espaciais, que ao saírem da atmosfera soltam esse mesmo componente, para além de centenas de milhar de parafusos, pedaços de plástico ou metais, que se soltam nesse mesmo momento de saída da atmosfera.
Há detritos de todos os tamanhos: cerca de 30.000 peças são maiores que 10 cm, 700.000 possuem entre 10 e 1 cm e 120 milhões de peças são menores que 1 cm. Para que se tenha noção, uma peça das mais pequenas consegue ter a mesma força de uma bola de bowling lançada a 100 km/h, o que pode representar danos gravíssimos a qualquer outra missão em curso ou aos satélites que ajudam o mundo moderno a funcionar (GPS, Telecomunicações e Internet). Não existindo qualquer lei que regule o abandono ou coleta de resíduos encontrados no espaço, haverá ainda um longo caminho a percorrer para solucionar este problema.
Têm sido propostas várias soluções para limpar o ambiente ao redor da Terra, mas a falta de financiamento impediu que qualquer uma fosse posta em prática até hoje. Fazer uma limpeza profunda do espaço custará vários milhares de milhões de euros, pelo que é impossível combater este flagelo sem uma coesão entre as várias partes interessadas, ou seja, aqueles que usam e virão a usar o espaço.
A Estação Espacial Internacional (ISS) já teve de efectuar diversas manobras para evitar colisões com esse lixo. A ISS, com o seu satélite RemoveDEBRIS, conseguiu inclusive recolher os primeiros detritos espaciais em 2019. Isto leva a NASA a afirmar que, dentro de uma década, todos os foguetes enviados para o espaço irão bater em pelo menos um detrito no seu caminho, o que levanta cada vez mais preocupações de segurança.
O espaço necessita de limpeza, pois tornar-se-á inacessível em 2100, caso não surjam soluções viáveis.