Os animais vegetarianos de grande porte, também designados como mega-herbívoros, que pesam mais de uma tonelada, são vistos cada vez mais como indispensáveis para o funcionamento dos ecossistemas, devido à sua alimentação e às alterações visuais e práticas que provocam paisagem onde estão inseridos.

Os elefantes são uma das espécies relevantes neste grupo de megafauna, sendo que se crê agora que o seu papel na estruturação e reestruturação dos ecossistemas é ainda maior do que o previsto. O estudo das espécies já tinha concluído que as longas caminhadas em manada ajudam, entre outras coisas, a criar novos trilhos que vencem a densidade florestal e abrem espaços onde podem crescer mais facilmente novas. Estas migrações permitem também ajudar a irrigar diversas áreas, pois palmilhando a erva em zonas alagadas, consegue-se criar novos carreiros que permitem à água fluir mais livremente.

Mas os benefícios que estes magníficos mamíferos trazem aos ecossistemas vão muito além do referido. Uma nova investigação científica internacional revela que os elefantes são fundamentais para aumentar a capacidade das florestas em armazenar dióxido de carbono (CO2).

Estudando de perto as florestas tropicais africanas, os cientistas perceberam que este tipo de animais “aumentam o armazenamento de carbono”, pois preferem alimentar-se de folhas de árvores de madeira menos densa, o que beneficia as espécies de madeira mais densa, que têm maior capacidade de absorção e armazenamento de CO2. Através das fezes, estes animais espalham posteriormente sementes de espécies de árvores que são maiores e mais densas.

Num artigo publicado agora na revista ‘PNAS’, os autores alertam que “a perda dos elefantes da floresta poderá via a aumentar a abundância de árvores de madeira menos densa e de crescimento mais rápido”. Isto pode resultar na perda de 6% a 9% da capacidade florestal em armazenar CO2 à superfície.

União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classifica os elefantes africanos da floresta (Loxodonta cyclotis) como ‘criticamente ameaçados’ e a sua população já diminuiu mais de 80% nos últimos 30 anos. Esta organização ambientalista diz que esta espécie, a par do elefante africano da savana (Loxodonta africana), tem sofrido imenso com a caça-furtiva, especialmente desde 2008.

Segundo os cientistas, se os elefantes da floresta desaparecerem por completo, a floresta tropical que cobre as regiões central e ocidental de África, que é a segunda maior do mundo, perderá capacidade de armazenamento de CO2, “amplificando o aquecimento global”.

Stephen Blake, biólogo e docente da Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos, foi um dos autores do artigo e admite que “o argumento de que toda a gente adora elefantes não tem conquistado apoio suficiente para impedir que eles sejam mortos” e que é importante encontrar uma narrativa mais impactante, destacando a importância que esses animais têm para combater os efeitos das alterações climáticas.

“A importância dos elefantes da floresta para a mitigação climática tem de ser encarada com seriedade pelos decisores políticos”, para que se consiga obter “o apoio necessário” à sua conservação, defende o cientista, destacando ainda que “o papel dos elefantes da floresta no nosso ambiente global é demasiado importante para ser ignorado”.

Assim sendo, defendem os autores, “estes resultados mostram a importância dos mega-herbívoros para a manutenção de florestas tropicais diversas e ricas em carbono” e a conservação dos elefantes “contribuirá para a mitigação climática a uma escala global”.

“Os elefantes são os jardineiros da floresta”, diz Blake, visto que dispersam sementes de árvores de madeira densa e ajudam a limpar a floresta de espécies com reduzida capacidade de armazenamento de CO2.

Os resultados desta investigação deverão ir muito além das florestas tropicais africanas e aprofundar o estudo a nível global. Sendo que as folhas das árvores de madeira mais densa são menos ‘saborosas’ e nutritivas para os animais herbívoros, os cientistas acreditam que outros animais com padrões alimentares semelhantes, como o elefante-asiático (Elephas maximus) ou os primatas, podem também contribuir para uma florestação com maior capacidade para armazenar dióxido de carbono.

No entanto, o decréscimo no número de elefantes africanos gera cada vez maior preocupação, com Stephen Blake a afirmar que a caça ilegal dos mesmos, assim como o comércio ilícito que ela alimenta, “continuam ativos”. No passado, cerca de dez milhões de elefantes terão existido por toda a África, mas agora são de 500 mil a sobreviver isolados em pequenos grupos.

“Estas mortes ilegais têm de parar para evitarmos a extinção dos elefantes da floresta”, reitera Blake, declarando que ao salvar os elefantes, estamos a salvar o planeta.


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